O que são competências não-cognitivas?
Especialistas dizem quais aspectos da personalidade são decisivos para o sucesso escolar e individual do seu filho
Foto: Aline Cassassa
Autonomia, estabilidade
emocional, sociabilidade, capacidade de superar fracassos, curiosidade e
perseverança são algumas habilidades não-cognitivas
Qual é a fórmula para que alunos tenham sucesso
em suas vidas? Durante muito tempo, inteligência, capacidade de
resolver problemas e raciocínio lógico foram as respostas para essa
pergunta. Até por isso, todas as avaliações educacionais atuais visam medir essas competências, conhecidas como cognitivas, por estarem ligadas ao conhecimento.
Exemplo máximo é o PISA, organizado pela OCDE e que compara o
desempenho de estudantes de 65 economias mundiais em Leitura, Matemática
e Ciências.
Mas um novo elemento foi
recentemente adicionado à equação do sucesso individual dos alunos.
Diversas pesquisas mostraram que não basta dominar Português e
Matemática, por exemplo, se o indivíduo não souber se relacionar com os
outros, não for determinado e não conseguir controlar suas emoções,
entre outras características da personalidade. São as competências não-cognitivas ou socioemocionais,
como chamam os educadores: autonomia, estabilidade emocional,
sociabilidade, capacidade de superar fracassos, curiosidade,
perseverança…
“Não há uma lista fechada de quais são essas
competências, mas os pesquisadores descobriram que para as pessoas serem
felizes e terem uma carreira bem-sucedida, esse tipo de habilidade
importa tanto quanto o saber fazer coisas”, explicou Daniel Santos,
economista e consultor do Instituto Ayrton Senna (IAS),
que organizou em parceria com a Organização para a Cooperação e
Desenvolvimento Económico (OCDE) o primeiro teste em escala para a
avaliação dessas habilidades não-cognitivas.
“Queremos que essa
primeira avaliação nos ajude a compreender como cada um desses fatores
impacta a aprendizagem dos estudantes”, afirma Mozart Ramos Neves,
diretor de inovação do Instituto. Os resultados da avaliação, aplicada
em 55 mil alunos da rede estadual do Rio de Janeiro, serão divulgados em
março de 2014. A OCDE, que também coordena o PISA, tem interesse em
fazer um estudo longitudinal das competências não-cognitivas em
diferentes países, isto é, o intuito é acompanhar grupos de alunos ao
longo do tempo para entender como a escola pode favorecer o
desenvolvimento das habilidades não-cognitivas e como isso altera a
aprendizagem.
Habilidades que ajudam na aprendizagem
O
que as pesquisas estão descobrindo agora, pais e professores já sabiam
há tempos. Sem esforço, organização, dedicação e boa sociabilidade,
mesmo um aluno inteligentíssimo terá dificuldades em ter uma vida
estudantil e profissional bem sucedida. Por outro lado, um aluno com
alguma dificuldade de aprendizagem pode compensar com perseverança,
disciplina e maturidade emocional para dar a volta por cima. “Esses
traços do caráter e da personalidade dos alunos fazem toda a diferença
para que não só aprendam mais, mas também para que não desistam dos
estudos e de seus sonhos”, explica Santos.
E a melhor parte é que
essas características não são talentos natos, mas podem ser aprendidas
em qualquer momento da vida. “As pessoas têm predisposições, há crianças
que são mais expansivas e outras mais retraídas, por exemplo. No
entanto, é a interação com as pessoas de sua convivência que vai
estimular ou não sua sociabilidade”, explica a professora de Psicologia
Clínica e do Desenvolvimento da Unesp (Universidade Estadual de São
Paulo) Alessandra Turini Bolsoni Silva.
Apesar de a vivência
escolar mostrar a importância dessas habilidades no dia a dia, os
especialistas avaliam que é necessário haver um programa intencional e
estruturado em forma de política pública para que haja resultados
positivos em todas as escolas.
A princípio, a ideia de colocar
mais temas a serem trabalhados em sala pelos professores parece desfocar
a busca por uma educação de qualidade. Até porque neste quesito ainda
estamos bem atrasados. Só lembrar que, no PISA 2012, ficamos em 58º
lugar dentre os 65 participantes. Porém, as pesquisas deixaram claro que
o desenvolvimento das habilidades não-cognitivas colaboram diretamente
para uma boa aprendizagem dos alunos. “Integrar as não-cognitivas talvez
seja um caminho para alavancar o sucesso escolar dessas crianças”, diz
Mozart Neves.
Depois de um extenso estudo bibliográfico, o
Instituto Ayrton Senna em parceria com a OCDE, agrupou seis habilidades
não-cognitivas mais importantes para serem avaliadas. Confira quais são:
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