Do Todos Pela Educação
Nunca foi segredo para nenhum professor ou pesquisador na área da
Educação que um aluno organizado, criativo ou curioso tem um desempenho
melhor do que aquele que demonstra menos entusiasmo na hora dos estudos.
Porém,
a medida exata do
impacto dessas características não cognitivas – como persistência,
responsabilidade e cooperação, por exemplo – no aprendizado escolar
ainda era desconhecida. Um estudo realizado pelo Instituto Ayrton Senna
com apoio da Secretaria Estadual de Educação do Rio de Janeiro (Seeduc) e
da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE)
mostrou exatamente como as habilidades não cognitivas podem colaborar no
processo de aprendizagem dos estudantes.
Intitulado “Desenvolvimento socioemocional e aprendizado escolar: Uma proposta de mensuração para apoiar
políticas públicas”, o estudo coletou dados de
escolas da rede
estadual do Rio de Janeiro para mostrar como essas características,
imprescindíveis na Educação do século 21, são determinantes no
desempenho em testes padronizados de língua portuguesa e matemática.
Os pesquisadores elaboraram um mecanismo para mensurar as
habilidades não
cognitivas em larga escala e validá-lo empiricamente por meio de uma aplicação piloto em uma
amostra representativa de alunos fluminenses – foram selecionados cerca de 25 mil estudantes.
O estudo mostrou, por exemplo, que a habilidade socioemocional “conscienciosidade”, que pode ser
definida
como a tendência a ser “organizado, esforçado e responsável”, é aquela
que está mais diretamente ligada ao desempenho em matemática. Já as
capacidades “abertura a
novas experiências”
e “lócus de controle” (que podem ser definidos sucintamente como
protagonismo e capacidades de controle e esforço pessoal sobre situações
vividas) interferem mais na
aprendizagem da língua portuguesa.
Os dados revelaram que crianças
com altos
níveis de conscienciosidade podem apresentar aprendizado em matemática 4
meses à frente daqueles que não têm as mesmas capacidades não
cognitivas. Aqueles com competências como o lócus de controle bem
desenvolvidas têm o domínio da língua portuguesa também adiantado em até
4 meses em relação aos demais.
Outro ponto de destaque é que o
incentivo dos pais aos filhos e a quantidade de livros disponíveis
em casa para estudar se mostraram condições fortemente ligadas ao
desenvolvimento de capacidades socioemocionais.
“O estudo mostra a importância da contribuição dos
pais,
independentemente da escolaridade deles: letrados ou não, seus
incentivos são extremamente importantes “, reforça Mozart Neves Ramos,
diretor de inovação e articulação do IAS.
Segundo ele, as habilidades não cognitivas podem ser estimuladas em atividades e ações
dentro de casa, como jogos, músicas, atividades em grupos,
contação de histórias
e outras iniciativas que possam estimular disciplina, responsabilidade,
concentração, comunicação, persistência e trabalho em equipe.
A
pesquisa contou com
uma vasta revisão da bibliografia já existente dos estudos sobre o tema,
coletando evidências que mostrassem que o sucesso escolar e
profissional não depende apenas de capacidades cognitivas (linguagem,
pensamento crítico e raciocínio, para citar alguns exemplos). Dessa
bibliografia resultou uma grande listagem das categorias e
características socioemocionais consideradas essenciais na atualidade.
Priscila Cruz, diretora-executiva do Todos Pela Educação ressalta que a
pesquisa é importante porque mostra a importância das habilidades não
cognitivas para equilibrar as diferenças socioeconômicas. “Incentivá-las
independe de renda e pode melhorar o desempenho do aluno sem importar a
classe econômica dele”, afirma.
Em 2013, o Todos Pela Educação definiu 5 Atitudes que mostram como a
população brasileira pode ajudar crianças e jovens a aprender cada vez
mais e por toda a vida. Entre elas, está “promover as habilidades
importantes para a vida e para a escola”, que trata justamente de
incentivar o desenvolvimento das habilidades não cognitivas desde cedo
para serem absorvidas e praticadas no dia a dia. “As 5 atitudes
complementam a agenda de Metas e Bandeiras do Todos Pela Educação”.
Futuro
O Ministério da Educação (MEC), por meio da Coordenação de Aperfeiçoamento de
Pessoal
de Nível Superior (Capes), e o Instituto Ayrton Senna (IAS) assinaram
um protocolo de intenções que incentiva pesquisas na área das
habilidades socioemocionais na Educação.
Fonte:
Todos pela educação